MEDINA, Cremilda. Entrevista: o diálogo possível. São Paulo: 5 ed. Editora Ática, 2008.
O livro “Entrevista: o diálogo possível” de Cremilda de Araújo Medina trata da entrevista e dos diversos aspectos que envolvem o jornalismo como fator de interação social e de transformação do meio.
A autora apresenta o atual modelo de entrevista, dirigida por questionários pré-estabelecidos, como frustrante para ambas as partes envolvidas no processo. O atual modelo técnico de entrevista impede a comunicação e subestima a importância do diálogo. Muitas vezes o jornalista induz o entrevistado às respostas que quer receber, preocupando-se apenas em cumprir a pauta.
São apresentados diversos aspectos que devem ser considerados no objetivo da pluralização de vozes e distribuição democrática da informação, tendo como finalidade o inter-relacionamento humano. A proposta é que se projete a simples técnica para a arte da entrevista, que engloba os processos de ouvir, perguntar, conversar.
Para que a entrevista fuja aos padrões impositivos e diretivos, a autora sugere que o entrevistador invista em sua própria personalidade, com a finalidade de conseguir atuar numa relação inter-criadora. O atual modelo de entrevista induz a um jogo de aparências, que pode ser substituído por um novo posicionamento do entrevistador, o qual levaria a auto-elucidação, ou seja, à tomada de consciência de ambos os indivíduos envolvidos no processo comunicacional.
Essa mudança de posicionamento faria com que houvesse uma mudança nos objetivos da entrevista na comunicação coletiva. Atualmente ela consiste, em sua maioria, na espetacularização do ser humano, enquanto poderia empenhar-se na intenção de compreendê-lo.
São apresentadas ao longo do livro as diversas categorias e subcategorias referentes à entrevista. Numa comparação do jornalismo como prática em relação às técnicas utilizadas nas Ciências Sociais, conclui-se que os jornalistas ainda fogem à teorização, agindo pelo “faro” adquirido. Por se configurar através da atualidade, universalidade, periodicidade e difusão; o jornalismo deixa a desejar na questão de novas possibilidades e apega-se ao imediatismo técnico.
Em alusão ao que a autora chama de “Ditadura da oferta”, nota-se que as empresas brasileiras investem muito mais em tecnologia que em seus quadros humanos. O modelo de objetividade e imparcialidade - que é tão divulgado enquanto objetivo do jornalismo - no livro é bastante questionado. A relatividade no jornalismo é aceita e destacam-se as pré-determinações em relação a quem se deve ouvir nas reportagens, que normalmente provém do autoritarismo institucional.
O Diálogo Possível é o foco do livro e se apresenta como a solução, não só da Entrevista, mas como dos modelos decadentes de jornalismo. A aproximação com a literatura e a substituição do objetivo pelo subjetivo se apresentam como possíveis soluções que já vêm sendo empregadas em determinados meios.
Propõe-se certa “rebeldia criadora”, onde a influência e a eficiência se mesclariam à naturalidade. A simples montagem das informações acumuladas em trabalho de campo (entrevista técnica) se humanizaria em um processo artístico, que opõe o linear ao fragmentado.
A autora cita as telenovelas como modelo de aceitação do público, pela sua não-linearidade e pelo uso constante do diálogo. Com uma estrutura narrativa adequada, o ponto de vista se torna mais eficiente. Diz-se que a emoção expressa através de estruturas substantivas, aliadas à clareza e precisão do estilo, garante a legibilidade no jornalismo.
A autora conclui o livro reafirmando a necessidade da implantação do Diálogo possível, ante a preocupação excessiva com o ‘bom português’: “A profissão de jornalista pode ser aventurosa, mas só uma das aventuras – o Diálogo Social – terá força para enfrentar o naufrágio”.
O livro conta ainda com um vocabulário crítico e bibliografia comentada, que servem de apêndice para a melhor compreensão do assunto e para possível aprofundamento teórico no mesmo.