LÉVY, Pierre. Díluvios. In: ___. Cibercultura. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 1999. Introdução, p. 11 – 18.
“Pensar a cibercultura: esta é a proposta deste livro.” (p. 11)
“Em geral me consideram um otimista. Estão certos. Meu otimismo, contudo, não promete que a Internet resolverá, em um passe de mágica, todos os problemas culturais e sociais do planeta.” (p. 11)
Logo nos primeiros parágrafos, Lévy deixa bem claro duas coisas: a primeira, é que ele não pretende tornar os seus estudos algo ditador a respeito da cibercultura, a segunda – e quase que uma complementação da primeira – é que ele, por mais otimista que seja, sabe que, assim como qualquer outra telecomunicação, a internet não é a solução para os problemas do planeta.
“(...) os jornais e a televisão já decidiram: o ciberespaço já entrou na era comercial (...). Tornou-se uma questão de dinheiro envolvendo os pesos pesados. O tempo dos ativistas e dos utopistas já terminou.” (p. 12)
“O fato de que o cinema ou a música também sejam indústria e parte de um comércio não nos impede de apreciá-los, nem de falar deles numa perspectiva cultural ou estética. (...) Ainda que um quarto da humanidade tenha acesso ao telefone, isso não constitui um argumento “contra” ele. Por isso, não vejo porque a exploração econômica da Internet ou o fato de que atualmente nem todos tem acesso a ela constituiriam, por sim mesmos, uma condenação da cibercultura ou nos impediriam de pensá-la de qualquer forma que não a crítica.” (p. 12)
E então os meios ditam. Logo, é verdade. Chega a hora que o autor se rende: o mundo é mesmo capitalista (ou liberalista, para quem prefere se prender à origem ideológica de Adam Smith e Voltaire) e, como se não fosse novidade, o ciberespaço virou mais uma ferramenta do liberado mundo capitalista. Quando ele se refere a “não a crítica”, ele interpreta “crítica” como um modo depreciativo de argumentar sobre o assunto. Há uma conotação da palavra, porém fácil entendida.
“As telecomunicações são de fato responsáveis por entender de uma ponta à outra do mundo as possibilidades de contato amigável, de transações contratuais, de transmissões de saber, de trocas de conhecimentos, de descobertas pacíficas de diferenças.” (p. 14)
“Uma das principais hipóteses deste livro é a de que a cibercultura expressa o surgimento de um novo universal, diferente das formas culturais que vieram antes dele no sentido de que ele se constrói sobre a indeterminação de um sentido global qualquer.” (p. 15)
“O ‘ciberespaço’ (...) surge da intercomunicação mundial dos computadores. Quanto ao neologismo ‘cibercultura’, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.” (p. 17)
Um novo universal explorado e acumulativo de trocas. Trocas. Observe que a palavra “trocas” remete a ideia de “já que estou te passando isso, nada mais justo que você me pagar por isso, de alguma forma”. Lévy fala de cultura, mas não consegue descartar as finanças. Também, a cultura planetária está voltada para a “lei da oferta e da procura”!
A definição do neologismo é quase desnecessária, mas, simplificando: ciber, relativo a internet e informática, cultura, conjunto de estruturas sociais, religiosas, sabedorias etc.
“Apresento, portanto, de forma acessível aos não-especialistas, conceitos como a digitalização da informação, os hipertextos e hipermídias, as simulações em computadores, as realidades virtuais, as grandes funções das redes interativas e particularmente as da Internet.” (p. 18)
E assim como um dicionário específico da cultura pós-moderna, Pierre Lévy informa, com uma linguagem agradável, para todos os inclusos da cibercultura – visto que todos que saibam ler estejam presente na cultura cibernética.