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quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Para você

Vá. Não se preocupe, ficarei bem. E prometo a você permanecer sempre no mesmo lugar. Para onde vou é seguro. Calmo. E se caso, algum dia, você sentir a minha falta, vou logo deixando o endereço.

Fica perto, no meio da cidade, na Floresta dos Homens Esquecidos. Onde os anjos sempre vêem as estrelas que se levantam. Há um jardim. Jardim de flores entregues sem paixão, testemunhas da tristeza que encobrem a pedra fria e a deixa mais bela. Restando como prova de amor a moradia confortável e a chance de enfim imortal – porque já não vive. E quem vive? A solidão que por fim está tão só num tempo que parou.

Estarei lá por entre as flores e o choro de uma vela que se apaga pelo vento que sussurra uma chuva. E ao ouvir o coveiro gritar: “É tempo de colheita!”, saberei que logo chega para buscar as flores do meu jardim; do meu jardim morto. Em tempos, ao ouvir soar o sino da Igreja, ele logo sabe, e começa a mexer na terra para plantar. E assim continua o ciclo: aqueles que mandavam flores, agora passam a também receber.

Criei um reinado, alcancei o conhecimento e falhei, simplesmente, em achar que poderia ser Deus. Remanescente, embora ainda não convidado. Talvez numa tarde de terça-feira ou numa madrugada de sábado, apenas ouvir o sussurro, alguém enfim lhe chama, e assim, será o que ainda resta para perfumar.

De tudo, sentirei falta do inverno e seu mundo de coisas frágeis. E para você, que por fim não me quis, deixo esse recado que por tão singelo acabará por não ser lido. E se caso ler essas linhas, lembre-se não da mão que as escreveu, e sim do que foi escrito. O choro sem lágrimas de um poeta que por fim beijou a flor.

Porque tudo que é belo morre. E tudo que é morto tem a sua beleza. E não importa a cor, todos vão para o mesmo lugar e terá o mesmo tom que rodeia por entre os pastéis. Pois quando se morre volta a ser pó e germina na flor e amanhece no dia.










*fotos e texto de um ensaio fotográfico com finalidades acadêmicas

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